segunda-feira, 16 de maio de 2011

Cadeias lotadas criam 'cavalo doido'

DILSON PIMENTEL Os aviões que, de madrugada, cruzam os céus do Guamá, funcionam como despertadores para os presos de Justiça da seccional do bairro. Os que estão dormindo acordam para que os demais descansem. Mas o excesso de detentos nas carceragens das delegacias e seccionais não tira o sono apenas dos internos. É uma permanente fonte de dor de cabeça também para os policiais. Na terça-feira passada, o alarme soou novamente. Presos recolhidos ao xadrez da Seccional do Guamá se rebelaram e danificaram o portão principal da cela, que é de ferro. A intenção era fazer o que, na gíria policial, é conhecido como 'cavalo doido'. Derrubariam o portão e sairiam ao mesmo tempo, correndo para todos os lados, tentando fugir. Eles também ameaçaram matar um companheiro de cela, caso não houvesse transferência para as casas penais da capital.

Da Redação
Na terça-feira havia 28 homens encarcerados e o espaço só tem capacidade para dez. A revolta dos detentos surtiu efeito. Na manhã seguinte, seis foram transferidos para unidades da Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe). Os transferidos eram presos foragidos da Colônia Agrícola Heleno Fragoso, em Santa Izabel, e que foram recapturados. Os policiais ponderam que detentos foragidos nem deveriam estar em unidades da Polícia Civil. Recapturados, deveriam ser levados imediatamente a uma casa penal, como prevê a Lei de Execuções Penais. Mas isso não ocorre automaticamente por falta de vaga no sistema penal. Eles ficam nas seccionais até serem enviados a centros de triagem da Susipe e, só depois, retornam ao sistema penal - mas não mais no regime semi-aberto da colônia agrícola, e sim em regime fechado de cadeia.
O motim da Seccional do Guamá foi liderado justamente pelos foragidos, que têm mais tempo de cadeia, muita intimidade com o mundo do crime e ascendência sobre os demais internos. Presidente da Associação dos Delegados da Polícia Civil do Pará (Adepol), o delegado Fernando Flávio considera um absurdo a presença de foragidos do sistemas penal nas carceragens da Polícia. 'Isso revela a falta de interesse do sistema penal em recambiá-los de imediato para a casa penal de onde eles evadiram-se. Esse é um dos motivos que contribuem para a superpopulação carcerária nas delegacias de Polícia em todo o Pará'.

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