domingo, 16 de janeiro de 2011

Crack se alastra pelo Estado do Pará

Posto com ossos salientes, magreza e pontas dos dedos queimados. O jovem de 16 anos, perambula sem rumo no entorno na praça Waldemar Henrique, no centro de Belém. As vestes sujas dão aparência de ser apenas um morador de rua, mas um cachimbo improvisado de tubo pvc que ele carrega no bolso é o sinal de que se trata de um usuário de crack, substância entorpecente produzida através da mistura de cocaína. "Ando com o cachimbo no bolso porque posso precisar. Vou tentar comprar uma pedra pequena para ficar ligadão", declara, enquanto se afasta da equipe de reportagem.

O adolescente faz parte das estatísticas sobre o aumento do consumo de crack no Estado. Segundo dados de um levantamento feito pela Confederação Nacional de Municípios (CNM) e divulgado no mês de dezembro passado em Brasília, o consumo de crack se alastrou no Estado do Pará. O levantamento, feito em 71 cidades paraenses, apontou que todos os municípios pesquisados enfrentam problemas relacionados ao crack e a outras drogas entorpecentes. Dos municípios pesquisados, somente 30 (42,2%) declararam que realizam algum tipo de campanha de combate ao crack. A pesquisa aponta ainda que só existem 14 Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) no Estado, com um total de 106 profissionais de saúde atuando.

Apenas os municípios de Marituba e Augusto Corrêa têm programas de combate ao crack e outras drogas, sendo que somente um deles (Marituba) tem este programa aprovado pela câmara de vereadores. Somente um município do Estado declarou que recebe apoio financeiro do governo federal para combater o uso do crack. No geral, 69 nunca receberam nenhum incentivo para prevenção e combate à droga. A pesquisa mostra que falta estratégia para o enfrentamento do uso da droga no Estado. No ano passado, o Governo Federal lançou um Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas, mas, no Pará, não houve nenhum investimento no combate às drogas.

O adolescente mostrado no início desta reportagem mora na rua há dois anos, depois que abandonou a casa da mãe em uma área de ocupação, no município de Marituba. "Não dava para continuar em casa porque passei a consumir muitas drogas. Minha mãe chorava muito, então preferi sair e tocar a vida longe da família. Minha mãe ainda tentou me internar, aos 13 anos, mas não teve condições de pagar pelo tratamento. O que ela ganha como empregada doméstica só serve para comprar comida. Pelo menos agora ninguém sofre, pois estou longe de casa e livre para fumar o crack", declarou o adolescente.

O relato dele tem suas particularidades, mas é semelhante ao drama da maioria dos jovens que ingressam no mundo das drogas: o usuário mergulha em total perda de contato com a realidade e em uma tamanha dependência que nada é mais importante do que a próxima pedra a ser fumada.

Centro Nova Vida cobra investimentos - A dependência química é uma doença social descrita pela Organização Mundial de Saúde (OMS), com números que assustam o mundo. Estima-se que 11% da população do país tenha envolvimento com álcool e outras drogas. De acordo com o fundador do Centro Nova Vida, Luiz Veiga, todos os espaços de tratamento para dependentes químicos que antes funcionavam nos municípios do Estado foram fechados pela falta de apoio. "Perdemos todos os espaços que antes ofereciam assistência aos dependentes químicos do interior, pois não houve nenhum tipo de investimento por parte do governo passado. Hoje, todos os dependentes químicos que residem nos municípios do Pará e que eram amparados pelo Nova Vida estão desamparados. Apenas a sede do Centro aqui em Águas Lindas é que continua funcionando, por isso, precisamos de ajuda", declarou Veiga. Segundo ele, a falta de políticas públicas voltadas para a recuperação dos dependentes é o que mais dificulta o trabalho no centro. "Espero que o atual governo se sensibilize com a situação e invista em projetos voltados para a sociedade civil, pois estamos perdendo os nossos jovens para as drogas. Precisamos de ajuda para continuar nessa guerra contra as drogas", completou.

PM desenvolve programa de prevenção - Orientar crianças e adolescentes sobre os perigos da droga é o objetivo do Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), desenvolvido pela Policia Militar. O programa visa prevenir o uso de drogas nas escolas entre as crianças do ensino fundamental. O Proerd teve inicio no Estado, em agosto de 2003, e hoje já formou aproximadamente 50.000 alunos, contemplou 187 escolas e 385 turmas, em diversos municípios O corpo de facilitadores do Proerd é formado por policiais militares voluntários que são selecionados e submetidos a treinamento especifico organizado em um curso de 80 horas/aula, especialmente treinados, que em encontros semanais de uma hora de duração na sala de aula, desenvolvem o programa utilizando cartilha especialmente criada para essa finalidade, que, além de estimular as crianças para resistirem às pressões de uso de drogas, estreitam o relacionamento policia/cidadão. A base de trabalho do Proerd é voltada para três instituições importantes na vida dos alunos: a Família, a Escola e a Polícia. "A cada ano, aumenta o número de alunos formados no programa. Trabalhar a prevenção é fundamental, pois, esses alunos crescem conscientizados sobre o perigo do crack e outras drogas", explicou o padre e coronel PM Eloi Wayth.


Fonte: Jornal Amazônia

Nenhum comentário:

Postar um comentário