quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Ver-o-Peso amanhace para abastecer Belém

                                                 Belém - Ver-o-peso - Foto: João Ramid

Quatro e meia da madrugada de uma segunda-feira. A cena que se vê no Mercado do Ver-o-Peso, em Belém, é a seguinte: mercadorias sendo descarregadas, barcos carregados de peixe chegando a todo momento. Caminhões, vans, carrinhos de mão... Homens, mulheres, mendigos. Uma mistura de cores, sabores e histórias que só é possível encontrar no maior cartão postal de Belém.
Enquanto um carrega o saco de farinha nas costas, o outro coloca uma caixa de frutas na cabeça. E o peixe? O peixe é levado na mão mesmo. Quanto mais conseguir segurar, melhor. O que não pode de jeito nenhum é dormir no ponto. Se dormir, acorda com peixe a menos no caminhão.
Foi o que aconteceu com o comerciante João Maroja. Enquanto descarregava peixe de seu caminhão, aproveitou para dar uma cochilada. Acordou assustado com aproveitadores que levaram parte de sua mercadoria. Pouco tempo depois e o caso foi resolvido: o ladrão devolveu o peixe e ficou tudo bem.
No Ver-o-Peso acontece de tudo um pouco. Quem trabalha lá sabe disso. O peixeiro Fernando Souza, que trabalha na feira há 32 anos, coleciona histórias para contar. A começar pela rotina dos peixeiros. Ele explica que quanto mais cedo chegar, melhor. “Antes, a gente podia chegar 2 ou 3 horas da manhã, porque sempre tinha peixe. Hoje em dia temos que chegar 1 hora da manhã, senão ficamos sem peixe”.
O feirante conta que por conta do período de chuva alguns tipos de peixe ficam mais escassos e também mais caros. “Para conseguir comprar uma dourada tem que chegar antes de 1h da manhã”.
O compromisso com os fregueses obriga a uma severa rotina. “Todos os dias é assim. De domingo a domingo. Chego ao Ver-o-Peso 1 hora da manhã e só vou embora depois de vender tudo, geralmente após as 14h”. Assim como ele, os cerca de 4.500 trabalhadores da feira enfrentam a mesma situação. Mesmo assim, se consideram privilegiados. “O Ver-o-Peso é a nossa primeira casa. É daqui que tiramos para levar para a nossa segunda casa, junto à família. Foi graças ao trabalho que faço aqui que consegui formar meus dois filhos”, diz Souza.
O trabalho dos peixeiros é tão árduo que eles não costumam ter muito tempo para conversar. Desde que chegou, Souza só parou de preparar os peixes às 6h da manhã, quando os clientes começaram a chegar. “Geralmente fico 4 horas direto só preparando os peixes”. Às 7 horas, ele entregou sua primeira encomenda do dia: 250 quilos de dourada. Só a partir daí parou, tomou um café preto e comeu um pão com manteiga.
Mas logo a pausa foi interrompida por uma cliente. Colocou um sorriso no rosto e prontamente: “Diga freguesa!”
SEGUNDA CASA
Elas são as privilegiadas do Ver-o-Peso. Geralmente, começam a chegar às 6 horas da manhã para abrir suas barracas. Como já têm a mercadoria pronta, não precisam madrugar no local. Mesmo assim, algumas fazem questão de chegar antes do sol raiar.
É o caso da erveira Isabel Trindade, 72 anos, que prefere chegar cedo para ver o movimento da feira. “Adoro esse cheiro, essa cor e esse sabor do Ver-o-Peso. Às vezes fico parada, só observando essa maravilha”. A filha dela, também erveira, Miraci Alexandre, herdou da mãe essa paixão pelo lugar. “Costumo dizer que eu moro no Ver-o-peso e me hospedo em minha casa. Passo o dia todo e não tenho vontade de ir embora”. O motivo de tanta paixão? Ela explica: “Foi graças a essa barraquinha de pouco mais de 80 centímetros que consegui criar meus três filhos. Por isso, meu trabalho aqui é feito com amor”. (Diário do Pará)

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