quinta-feira, 14 de julho de 2011

Assassinato em motel alerta aos perigos da web

Não foi a primeira vez que um crime envolvendo relacionamentos construídos em redes sociais na internet aconteceu em Belém. Ainda assim, as circunstâncias do assassinato de Joelson Ramos, encontrado morto em um motel com a cabeça e a ponta dos dedos decepados na tarde da última segunda-feira, chamaram a atenção pela crueldade. O relacionamento mantido através da internet acabou em morte e trouxe à tona a discussão sobre os perigos da autoexposição na rede.
A incerteza sobre quem está do outro lado do computador e as facilidades de dissimulação que o meio de comunicação proporciona são os pontos que merecem mais atenção dos usuários da rede, de acordo com a titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Tecnológicos, Beatriz Silveira. Segundo ela, a desconfiança é sempre a melhor saída. “O melhor cuidado é desconfiar sempre, pois nem sempre a pessoa que está do outro lado da conexão é quem você imagina, uma vez que a internet possibilita a sensação de anonimato”, afirma. “Muitos criminosos se aproveitam disso para se aproximarem de suas futuras vítimas”.
Diante das diversas ferramentas disponibilizadas, como as que possibilitam a publicação de vídeos e fotos, o usuário deve ficar atento a que pessoas podem ter acesso a esses conteúdos. Informações pessoais, como o local de trabalho, dados financeiros e até a data de aniversário podem servir de fonte para pessoas mal-intencionadas. “O usuário deve evitar colocar fotos íntimas suas, de filhos, além de dados específicos de sua rotina, como fases emocionalmente delicadas, para que não venha a atrair a atenção de criminosos”, recomenda a delegada.
De acordo com o professor de Ciência da Computação da Universidade Federal do Pará (UFPA), Roberto Samarone, há formas de se restringir o acesso a esse tipo de informação. “O ideal é que as pessoas divulguem o mínimo possível de informação sobre si. Para reduzir o risco de exposição, estas informações podem ter o acesso restrito configurando sua página de rede social”, explica.
Segundo ele, não é fácil identificar se uma pessoa está mentindo na rede. “É muito difícil, tendo em vista que um perfil dentro da rede pode ser facilmente criado e conter qualquer tipo de informação”. Diante disso, ele aposta na prevenção do próprio usuário. “Como as pessoas revelam cada vez mais informações em redes sociais, fica cada vez mais fácil obter dados sobre uma pessoa. Ao divulgar informações na rede, a pessoa passa a perder um pouco de seu anonimato”.
A delegada Beatriz também recomenda maneiras de se evitar situações perigosas na internet. “Há formas de se buscar ter certeza de que você realmente está falando com quem imagina, podendo recorrer, por exemplo, ao uso de webcam”.
Essa foi a estratégia adotada pela advogada Deise Hackemann. Casada há seis anos com um alemão que conheceu pela internet, ela reconhece que é preciso cuidado. “É um grande risco, uma coisa muito intuitiva”, afirma. “A confiança só se estabelece de verdade com a convivência. De vez em quando é bom fazer a mesma pergunta para a pessoa para ver se ela não cai em contradição. Tem que conhecer a família, a casa onde a pessoa mora... É um trabalho de investigação”.
Durante o tempo em que se relacionou com o atual marido pela internet, ela utilizava o recurso da webcam para observar o local onde ele morava e ganhar mais confiança. “No meu caso, apesar de ser pela internet, eu o conheci através de amigos, então, foi mais tranquilo”.
OUTROS CRIMES: CASO BRUNA LEITE
Outros crimes parecidos já aconteceram em Belém, como o da estudante Bruna Leite, assassinada em 2005 pelo “Anjo Vingador”, codinome usado por Marcelo Lutier. Os dois se conheceram em uma rede de relacionamentos na internet. Lutier usou a admiração de Bruna pelo cantor Renato Russo para se aproximar. Depois de morta, a menina foi abusada sexualmente. O corpo foi jogado numa lixeira. (Diário do Pará)

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