terça-feira, 22 de novembro de 2011

Adeus aos mortos. Incerteza aos que ficam

A indignação pela forma brutal de como a chacina aconteceu era visível em cada palavra de sofrimento que familiares e amigos pronunciavam durante o enterro de quatro dos seis jovens que foram assassinados no último sábado, no Distrito de Icoaraci.
A despedida que aconteceu ontem de manhã, no cemitério municipal de Icoaraci, iniciou por volta das 9h30 com o primeiro enterro. Carlos Viana, tio de um dos adolescentes de 16 anos, contou que há 4 meses o jovem, que antes morava no bairro do Tenoné, estava morando com a avó.
Lá, o garoto estudava e trabalhava, mas mantinha algumas amizades, que de acordo com o tio, não eram benquistas pela família. “Ele andava com um grupo que exercia algumas atividades erradas, mas vínhamos monitorando todos os passos dele. Acredito que esse possa ter sido o motivo para a morte”, comentou Carlos.
Logo em seguida, às 10h, chegou o cortejo com os corpos dos irmãos de 15 e 16 anos, juntamente com o primo de 17 anos. A multidão que acompanhava o traslado pedia por justiça para a morte dos garotos. “Onde nós moramos nunca havia acontecido nada do tipo. Por isso esperamos que a justiça seja feita. Que os culpados sejam encontrados”, argumentou uma das vizinhas, Cristiane Gomes. Ela e seu marido foram um dos primeiros a chegar no local do crime.
Muito serena, Erinelda Rodrigues, mãe dos irmãos que foram assassinados, contou que no momento do crime, ela estava em sua casa e que os filhos haviam acabado de sair para ir até a casa da avó. “Eu escutei alguns tiros. Como a casa da minha mãe fica próxima da minha, liguei para ela à procura de notícias. Foi aí que me avisaram”. Os meninos ainda tinham mais uma irmã.
O avô dos garotos, Antonino Fernandez, contou com detalhes o que viu ao chegar no local. “De longe já era possível ver o sangue. Eles deram vários tiros. Talvez mais para o fim as balas tenham acabado e para finalizar um deles que ainda estava vivo, eles deram facadas. Tentei socorrer meus netos, mas já era tarde demais”, explicou emocionado. Bastante indignado, Antonino ainda afirmou que nunca vai esquecer da cena e pede por mais segurança.
As pessoas que aguardavam pelo final do enterro afirmavam que os dois suspeitos de terem cometido o crime estavam em uma moto vermelha e o passageiro estava sem capacete. “Não consegui reconhecer, mas sei que eles não eram da redondeza”, comentou uma testemunha que preferiu não ser identificada.
SANTA ISABEL E VIGIA
Os dois últimos enterros dos adolescentes vítimas da chacina no Distrito de Icoaraci ocorreram na tarde de ontem em locais diferentes. O adolescente de 17 anos foi enterrado às 15h no Cemitério Santa Isabel, em Icoaraci. E o adolescente de 14 anos foi enterrado no município de Vigia, onde a família mora.
O cemitério de Santa Isabel estava lotado de jovens com faixas expressando dor, saudade e pedido de justiça. Após o enterro o caminho dos familiares e amigos do adolescente foi até ao local do crime, na rua Padre Júlio Maria, em frente do prédio do Ipamb, onde eles estenderam os cartazes com fotos e mensagem pedindo paz, amor e justiça.
Durante as últimas homenagens, Maria da Consolação Ferreira, tia do adolescente de 17 anos, disse que o sobrinho foi o primeiro a ser baleado. “Foi uma atitude cruel, eles mandaram os meninos ficarem ajoelhados e uma pessoa que viu tudo disse que o meu sobrinho foi o primeiro a ser morto”.
Alvo da chacina havia se ausentado há minutos
De acordo com informações colhidas pelos familiares das vítimas, várias pessoas presenciaram o crime, pois a rua estava movimentada e os criminosos não ficaram inibidos na presença das pessoas. Segundo uma moradora, que não quis se identificar, tinham pessoas andando, conversando em suas portas e carros trafegando.
“Essa rua é supermovimentada e eles não tiveram a mínima preocupação com quem estava passando por aqui, pois chegaram e foram atirando, quando eu escutei os tiros corri para minha casa. Eu não ia ficar na rua”, disse a moradora.
O ALVO
A conversa que circula no Distrito de Icoaraci é que os assassinos fizeram a abordagem nos adolescente perguntando por outro adolescente com o apelido de “Baba”.
Eles teriam perguntado pelo “Baba” e os garotos teriam respondido que ele não estava ali. Com isso, os criminosos se apresentaram como policiais e pediram que se ajoelhassem e virassem de frente para a parede, foi quando os disparos tiveram início.
O adolescente procurado pelos criminosos, minutos antes, estava na companhia das vítimas da chacina, mas deixou o local e conseguiu se livrar da morte.
INVESTIGAÇÃO
Na tarde de ontem, o DIÁRIO entrevistou o delegado responsável pelo inquérito policial, Lenoir Cunha e o diretor da Divisão de Homicídio, Gilvandro Furtado. Os dois informaram que até o momento não têm uma linha de investigação consistente e a polícia ainda está em fase de coleta de informações.
Até ontem, o delegado Lenoir tinha ouvido quatro depoimentos. À tarde, esteve em contato com uma das testemunhas. “Até o momento (ontem à tarde) ainda não chegamos à identificação dos criminosos. Todos os depoimentos que ouvi ainda são superficiais, ainda não teve ninguém que falou sobre a identidade ou pelo menos o apelido dos criminosos”, disse Lenoir Cunha.
A equipe da Divisão de Homicídio já está nas ruas para entregar 15 intimações. “Nós estamos listando as pessoas para serem ouvidas. Essa semana vamos ouvir pelo menos 15 pessoas”, completou o delegado.
HIPÓTESES
Com relação ao suposto envolvimento de policiais militares no crime, o diretor da Divisão de Homicídio, Gilvandro Furtado, disse que tudo é possível. “É natural que surjam várias hipóteses e nós acatamos da menos até a mais provável e investigamos todas. Nesse momento ainda não há uma linha de investigação definida”.
A polícia aguarda depoimentos de mais vítimas e não descarta a elaboração de retrato falado dos criminosos. Gilvandro Cunha falou à imprensa que há suspeita que quatro pessoas participaram da chacina e não duas como foi divulgado. Ele afirmou que a conclusão foi feita com base nas investigações e análises da cena do crime. (Diário do Pará)

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