sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Pará ocupa 3º lugar no ranking de mortes de jovens

O futuro do Pará está sendo apagado do mapa. São jovens e adolescentes impedidos de continuar existindo. Eles estão sendo eliminados. De acordo com dados do Sistema Nacional de Mortalidade do Ministério da Saúde, entre 1999 e 2009, a taxa de homicídios no território paraense cresceu 44,7% entre pessoas com 10 e 14 anos. O Estado é o terceiro com maior índice de crescimento nesse campo, só perde para Bahia e Maranhão.
Para se ter uma ideia do avanço desenfreado da violência, em 1998 o Pará ocupava a 16º posição no ranking nacional de homicídios de adolescentes. Dez anos depois, ele subiu para a 8ª posição. O mesmo se repete em Belém. Ambos numa escala de 100 mil habitantes. Em um outro panorama, só em 2008 morreram 1.086 jovens e adolescentes entre 15 e 24 anos, o que equivale a quase três mortes por dia. Apenas na capital foram 287 vidas interrompidas nesse período. Números extraídos do Mapa da Violência, um documento produzido pelo Instituto Sangari e Ministérios da Justiça, e publicado a cada três anos.
Essas questões foram apresentadas ontem pelo Centro de Defesa da Criança e Adolescente (Cedeca), do Movimento República de Emaús. Números apontados durante uma coletiva de imprensa do Cedeca ao lado da Sociedade Paraense em Defesa de Direitos Humanos. As entidades se manifestaram publicamente sobre o episódio da chacina em Icoaraci no último final de semana. O tom era de repúdio, lamento e protesto.
“Infelizmente não é a primeira vez que o movimento vem a público se manifestar sobre a violência contra os jovens no Estado. O movimento pensa que haja não só uma indignação da sociedade, mas que haja uma reflexão. O Pará está sempre marcado, sempre à frente nessa violência. Até quando nós vamos precisar existir? E fazendo sempre esse tipo de manifestação pública?”, questiona Graça Trapasso, coordenadora – executiva do Movimento República de Emaús.
O caso da chacina de Icoaraci, onde seis adolescentes foram executados a tiros, só dá vida aos números e estatísticas de levantamentos feitos por entidades e instituições do Brasil. Eles mostram o crescimento alarmante da violência entre a juventude.
ESTATÍSTICA
Segundo o Mapa da Violência, dos 73% de jovens que morreram no país, as causas foram externas. Destes, 62% por mortes violentas. Entre a parcela adulta da população, os números não ultrapassam 10% em causas externas. No cenário paraense, os números não sofrem grandes modificações. Dos 70% mortos por causas externas, 62% dos jovens morreram de forma violenta.
A pesquisa mostra ainda que a violência tem cor e classe social. São os jovens negros e pobres do Brasil os que mais morrem e estão mais propensos à morte. “Essa violência é distribuída desigualmente. Tem um alvo certo. Nossa juventude negra e pobre está exterminada”, reflete Sérgio Martins, advogado da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH).
Outro estudo a sugerir a violência cada vez maior sobre a juventude é o do Índice de Homicídios na Adolescência, o IHA. O índice é resultado Programa de Redução da Violência Letal, do Observatório das Favelas, Laboratório de Análise da Violência, Secretaria Nacional de Direitos Humanos e UNICEF. Ele aponta que a probabilidade dos assassinatos com um adolescente do sexo masculino é 12 vezes maior do que no caso do sexo feminino.
O risco aumenta quase três vezes quando eles são negros. Esse estudo analisou 267 municípios brasileiros e revela uma possibilidade assustadora: o número de adolescentes e jovens assassinados entre 2006 e 2012 no Brasil deverá ultrapassar 33 mil. O levantamento ainda prevê o futuro dos jovens com 12 anos em 2006, os quais provavelmente sequer chegarão aos 19 anos, porque deverão ser assassinados.
Dos seis garotos mortos em Icoaraci, nem todos tinham 12 anos em 2006. Ainda assim, nem um deles completará os 19. São vítimas de todo um contexto de brutalidade e ausência de políticas públicas. E não os culpados, como os representantes do Cedeca, SDDH e Comissão de Justiça e Paz da CNBB fazem questão de lembrar.
“Eles foram tratados como se estivessem envolvidos em atos infracionais, como se isso justificasse o fato. Eles não têm registro, passagem pela DATA [Divisão de Atendimento ao Adolescente]. Independentemente de eles estarem envolvidos ou não, o direito à vida é para todos. Nosso sentimento é de indignação de como foram tratados esses adolescentes. Isso jamais pode ser colocado como elemento justificador do que aconteceu com esses jovens”, disse Bruno Guimarães, advogado do Cedeca. (Diário do Pará)

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